quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Vinhos Suíços – Uma agradável surpresa

Cláudio da Rocha Miranda*
Fomos convidados a participar de uma degustação de vinhos suíços. Vinhos suíços?! Afinal a Suíça, com todo respeito, ao que sabemos é um país lindo, mas bom de queijos e chocolates e não de vinhos! Ledo engano. Era uma quinta-feira final de julho, no Rio de Janeiro, cujo inverno de nada lembra o clima suíço. O local, a L’Orangerie, uma delicatesse localizada no “estiloso” bairro das Laranjeiras no Rio de Janeiro à vista do Cristo Redentor. Ali participamos quase semanalmente de excelentes degustações. O responsável pela apresentação dos vinhos, José Augusto Saraiva, é o proprietário da importadora Vitis Vinífira (www.vitisvinifera.com.br).

 Fomos apenas para cumprir tabela. Afinal, certamente nada de muito promissor nos aguardava, tratando-se de vinhos suíços! Aquele país possui uma pequena extensão de vinhedos, cerca de 15 mil hectares mas um grande consumo per capita. São 40 litros por habitante/ano equivalente a um consumo anual de 300 milhões de litros/ano (51% são de vinhos brancos e 49% de tintos). Deste total, cerca de 60 % são importados. Trata-se, portanto, de um país importador de vinhos (o 10° maior do mundo). Possui, no entanto, diversas regiões produtoras.

Nossa degustação limitou-se aos vinhedos da região du Valais, região às margens do Lago Leman, no alto Rhone com mais de 50 variedades de uvas, algumas únicas no mundo, com vinhas entre 450 m e 850 m de altitude, nas encostas escavadas pelas antigas geleiras dos Alpes. Região de clima continental com noites frescas e de muito sol e calor, no verão.


Chega de informações e vamos aos vinhos. Na abertura dos trabalhos degustamos o vinho branco Fendant (Chasselas) AOC du Valais, com um corte de Fendants selecionadas e vinificadas à maneira tradicional. De aroma floral e frutado com uma estrutura agradável, assinalada pela leve presença de gás carbônico, esse vinho possui certa complexidade e uma agradável maturidade servindo para um perfeito aperitivo e combinando muito bem, com entradas, peixes e pratos com queijo. É a harmonização clássica da Raclett.

O segundo vinho branco foi a primeira grande pérola da noite. O Petite Arvine 2005 – Maître de Chais. Os aromas são típicos de grape fruit e frutas cítricas, com destaque para o abacaxi e o maracujá. Com 14% de álcool possui também, notas minerais características do terroir das Arvines de Fully. Harmoniza bem com os crustáceos, salmão defumado e peixes do mar. Possui ainda ataque final que demonstra todo o seu vigor e persistência. Laureado com 10 medalhas de ouro, 7 de prata e 2 de bronze em concursos europeus desde 2004, certamente faz jus a todas elas. Excelente.
Outro craque da noite foi o Humagne Rouge 2005. Vinho de cor vermelho rubi, de grande complexidade aromática, mesclando frutas vermelhas, violetas, aromas minerais e defumados. É amadurecido em carvalho durante 12 meses e tem 13,5% de álcool. Muito redondo e estruturado, com taninos firmes e elegantes, de guarda por cerca de 6 anos. Adorei.

Outro merecidamente “medalhado” servido na noite foi o Syrah du Valais 2005 – Maître de Chais. Com 4 medalhas de ouro, 13 de prata e 2 de bronze de concursos europeus este AOC tem 13,5% de álcool e é um produto da vinificação tradicional, com longa maceração e maturação em barricas de carvalho por 12 meses. Tem cor vermelha, forte, nariz de especiarias, lembrando o cravo e aromas apimentados. De estrutura sólida, maciça e firme acompanha todas as carnes, inclusive de caça. Vinho de longa guarda, com potencial de 15 anos. Comparável aos tintos Syrah’s de qualidade do velho mundo mas com o inigualável toque suíço.
 
Para não esquecer da noite, foi-nos servido, por último, acompanhado de uma torta "apfelstrudel" de primeira, o Marsanne blanche (Hermitage) 2004. Do produtor Nicolas Zufferey este adocicado (60 g/l) com 13,5% de álcool foi fermentado e amadurecido em barricas de carvalho. É o resultado de uvas colhidas a mão, super maduras e selecionadas individualmente. Um néctar! Desnecessário dizer que acabei comprando todos e mais um Pinot Noir, também da região, que ainda não degustei. Depois eu conto.
* Cláudio da Rocha Miranda é carioca, economista, professor da FGV e CEO de empresa de plano de saúde. Fonte: www.adegavinhos.com.br


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