HÁ UM LIVRO DA MARGUERITE YOURCENAR, de que eu gosto muito, que se chama “O tempo, esse grande escultor”. Lembrei-me deste título, pois poderia também aplicar-se ao envelhecimento dos melhores Vinhos do Porto.
Os Vintage e os seus irmãos, Tawnies, que envelhecem em madeira, mostram todo o seu esplendor depois de longos anos de maturação. Cada um à sua maneira: o Vintage, o irmão sossegado, fechado numa garrafa, e que pede que se esqueçam dele num local fresco e escuro por muitos anos, e os Tawnies que preferem uma vida mais agitada, em contacto com o ar através dos poros da madeira dos cascos onde se encontram, mas que também precisam de muito tempo para atingir a maturidade.
Estes vinhos são os filhos irrequietos e dão bastante mais trabalho ao seu pai, o enólogo. De tempos a tempos, ao longo da sua vida, pedem para serem mudados de vasilha para arejarem mais um pouco e não ganharem aromas desagradáveis. O pai, por seu turno, precisa de estar atento e ver se parte deste vinho não se evaporou, pois se tal tiv acontecido terá de atestar o casco com um vinho semelhante para que o longo processo de amadurecimento do Tawny continue nas melhores condições.
“Élever” é a palavra francesa para todo este processo. Uma das traduções possíveis para português é “educar”, o que acho que reflecte bem o que sucede ao vinho, bem como o trabalho feito pelo enólogo e sua equipa. Quando abrimos uma garrafa de um Tawny velho, como um Colheita, ou um Tawny com Indicação de Idade de 10, 20, 30 ou 40 anos e nos apercebemos das suas características, damos por bem empregue o tempo de quem acompanhou estes vinhos durante tantos anos.
Bento Amaral
FONTE: Revista Blue Wine a Essência do Vinho
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